Definir é limitar!

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Osasco, São Paulo, Brazil
A vida me tornou uma pessoa forte ao mesmo tempo que frágil e com isso aprendi que obstáculos são aprendizados para um melhor viver e não desculpas esfarrapadas para culpar o destinos pelos seus erros. Aprendi que posso buscar a felicidade no mundo todo e nunca encontrá-la, pois a real felicidade está apenas em mim mesma. E também aprendi que o ouro, o diamante, a esmeralda e o rubi são preciosos por serem raros, mas que minha família e amigos são preciosos por serem únicos! Vivo amando e amo viver...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Gardênia Branca

Todos os anos, no dia do meu aniversário, desde que completei doze
anos, uma gardênia branca me era entregue anonimamente em casa. Não
havia nunca um cartão ou um bilhete e os telefonemas para o florista
eram em vão, pois a compra era sempre feita em dinheiro vivo. Depois
de algum tempo, parei de tentar descobrir a identidade do remetente.
Apenas me deleitava com a beleza e o perfume estonteante daquela
única flor, mágica e perfeita, aninhada em camadas de papel de seda
cor-de-rosa.

Porém nunca parei de imaginar quem poderia ser o remetente. Alguns
de meus momentos mais felizes eram passados sonhando acordada com
alguém maravilhoso e excitante, mas tímido ou excêntrico demais para
revelar sua identidade. Durante a adolescência foi divertido
especular que o remetente seria um garoto por quem eu estivesse
apaixonada, ou mesmo alguém que eu não conhecia e que havia me
notado.
Minha mãe freqüentemente alimentava as minhas especulações. Ela me
perguntava se havia alguém a quem eu tivesse feito uma gentileza
especial e que poderia estar demonstrando anonimamente seu apreço.
Fez com que eu lembrasse das vezes em que estava andando de
bicicleta e nossa vizinha chegara com o carro cheio de compras e
crianças. Eu sempre a ajudava a descarregar o carro e cuidava que as
crianças não corressem para a rua. Ou talvez o misterioso remetente
fosse o senhor que morava do outro lado da rua. No inverno, muitas
vezes eu lhe levava sua correspondência para que ele não tivesse que
se aventurar nos degraus escorregadios.

Minha mãe fez o que pôde para estimular minha imaginação a respeito
da gardênia.

Ela queria que seus filhos fossem criativos.

Também queria que nos sentíssemos amados e queridos, não apenas por
ela, mas pelo mundo como um todo.

Quando estava com dezessete anos, um rapaz partiu meu coração. Na
noite em que me ligou pela última vez, chorei até pegar no sono.
Quando acordei de manhã havia uma mensagem escrita com batom
vermelho no meu espelho: "Alegre-se, quando semideuses se vão, os
deuses vêm." Pensei a respeito daquela citação de Emerson durante
muito tempo e a deixei onde minha mãe a havia escrito até meu
coração sarar. Quando finalmente fui buscar o limpa-vidros, minha
mãe soube que estava tudo bem novamente.

Mas houve certas feridas que minha mãe não pôde curar.

Um mês antes de minha formatura no segundo grau, meu pai morreu
subitamente de enfarte. Meus sentimentos variavam de dor a abandono,
medo, desconfiança e raiva avassaladora por meu pai estar perdendo
alguns dos acontecimentos mais importantes da minha vida. Perdi
totalmente o interesse em minha formatura que se aproximava, na peça
de teatro da turma dos formandos e no baile de formatura – eventos
para os quais eu havia trabalhado e que esperava com ansiedade.
Pensei até mesmo em entrar em uma faculdade local, ao invés de ir
para outro estado como havia planejado, pois me sentiria mais segura.

Minha mãe, em meio à sua própria dor, não queria de forma alguma que
eu faltasse a nenhuma dessas coisas. Um dia antes de meu pai morrer,
eu e ela tínhamos ido comprar um vestido para o baile e havíamos
encontrado um, espetacular - metros e metros de musselina estampada
em vermelho, branco e azul. Ao experimentá-lo, me senti como
Scarlett O'Hara em O Vento Levou... Mas não era do tamanho certo e,
quando meu pai morreu no dia seguinte, esqueci
totalmente do vestido.

Minha mãe, não. Na véspera do baile, encontrei o vestido esperando
por mim - no tamanho certo. Estava estendido majestosamente sobre o
sofá da sala, apresentado para mim de maneira artística e amorosa.
Eu podia não me importar em ter um vestido novo, mas minha mãe se
importava.

Ela estava atenta à imagem que seus filhos tinham de si mesmos.

Imbuiu-nos com uma sensação de mágica do mundo e nos deu a
habilidade de ver a beleza mesmo em meio à adversidade.

Na verdade, minha mãe queria que seus filhos se vissem como a
gardênia - graciosos, fortes, perfeitos, com uma aura de mágica e
talvez um pouco de mistério.

Minha mãe morreu quando eu estava com vinte e dois anos, apenas dez
dias depois de meu casamento. Este foi o ano em que parei de receber
gardênias.





(Marsha Arons)

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